Eu tenho dois corações
Já me não podem bastar
Atrás das formigas
Horas que passei
Tens mãos macias de gato
Meio manso meio bravio
Olhas às vezes regato
Outras mar e outras rio
Quem conseguir esquecer
Que veio cá para morrer
É mais feliz do que eu
Faça eu o que fizer
Não posso deixar de ver
Morrer tudo o que nasceu
Quando alguém gosta d'alguém
É de nós que não gostamos
Perde-se o sono por quem
Perdidos de amor andamos
Os teus lindos olhos pretos
Teus olhos de negro olhar
Olham-me tão inquietos
Que me andam a inquietar
Meu coração sem direito
De bater tão apressado
Anda dentro do meu peito
Onde não cabe coitado
E o meu coração
Na palma da mão
Deixei-o ficar
Caiu-me no chão
Meus olhos são p'ra chorar
Meu Coração p'ra sofrer
Minhas mãos para fechar
Meu corpo para morrer
Quem sou eu para dizer
Quem sou eu para o saber
Nem sei se sou ou não sou
Ninguém pode conhecer
Isto de ser e não ser
Gosto de te ver assim
Gosto de ti ao meu lado
Mas tu não gostas de mim
E andas muito afastado
Fiquei à espera de ti
E parou-me o coração
Mas tu deixaste-me aqui
Com a minha solidão
Solidão
Campo aberto
Campo chão
Tão Deserto
É meu destino
Se o desgosto é pequenino
Eu aumento-lhe o tamanho
Viver é estar-se perdido
Não sei se o terei ouvido
Se o li ou inventei
A vida tenho passado
Alegre triste a chorar
Tem sido vário o meu fado
Mas constante o meu penar
Se o desespero ensinasse
Eu já sabia viver
Talvez alguém me pagasse
O que me anda a dever
Tantas coisas que já li
Outras tantas que vivi
Fazem de mim o que sou
Ai se eu tivesse esquecido
Tudo o que tenho vivido
E o coração decorou
Contigo fica o engano
Como havia de ficar
Mas eu que no meu pensar
Não fazia mal cantar
Cantava e não me calava
Amor pecado
Amor de amor
Amor de mel
Amor de flor
Amor de fel
Amor maior
Amor amado
Cá por dentro da cabeça
Vazia como eu a tenho
Por estranho que me pareça
Atendendo ao seu tamanho
Tenho no peito
Um pássaro encantado
Que anda sem jeito
A mim amarrado
Tenho um amor
Que não posso confessar
Mas posso chorar