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sábado, 2 de maio de 2009


não há dúvida, Amor, que te não fujo

e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,

tenho vivido eternamente preso!

são a grande razão, a única razão.

Deus fez o poeta por que não descanse

O poema tem mais pressa que o romance

Era o último amor e não sabia

que os pés à terra nua oferecia.

Armado estou de amor.

E desarmado.

Morro assaltando morro se me assaltas.

E em cada assalto sou assassinado.

Não sei, amor, sequer, se te consinto

ou se te inventas, brilhas, adormeces

nas palavras sem carne em que te minto

a verdade intemida em que me esqueces.

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!

— Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado...

Sem ironia, amor: — Obrigado, obrigado

Por tudo o que me deste!

Por aquela tão doce e tão breve ilusão.

(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,

Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita

A minha gratidão!


Por tudo o que me deste:

— Inquietação, cuidado,

(Um pouco de ternura? E certo, mas tão pouco!)

Noites de insónia, pelas ruas, como um louco...

Obrigado, obrigado!

E em duas bocas uma língua... — unidos,

Nós trocaremos beijos e gemidos,

Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Na tua boca sob a minha, ao meio,

Nossas línguas se busquem, desvairadas...

E que os meus flancos nus vibrem no enleio

Das tuas pernas ágeis e delgadas.

Não me peças palavras, nem baladas,

Nem expressões, nem alma...

Não perguntes, não sei — não sei dizer:

Um grande amor só se avalia bem

Depois de se perder.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;

Lá fora da luz do Sol já combalida

Era um sorriso aberto num contraste

Com a sombra da posse proibida...

Quanto, quanto me queres? — perguntaste

Numa voz de lamento diluída;

E quando nos meus olhos demoraste

A luz dos teus senti a luz da vida.

«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,

Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida

Meus olhos andam cegos de te ver!

Não és sequer a razão do meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida!

De embate ao meu amor todo me ruo,

E vejo-me em destroço até vencendo:

É que eu teria só, sentindo e sendo

Aquilo que estrebucho e não possuo.



Meu Deus, quando é que eu embarco?


Ó fome, quando é que eu como?

Juramos ser imortal

esse amor estranho e louco...

E o grande amor, afinal,

Com um sorriso teu, fez o luar

(Que é sorriso de noite, ao viandante)

E eu que andava pelo mundo, errante,

Já não ando perdido em alto-mar!

Deus fez a noite com o teu olhar,

Deus fez as ondas com os teus cabelos;

Com a tua coragem fez castelos

Que pôs, como defesa, à beira-mar.

Noite de núpcias:

Enquanto despia o fraque

junto ao leito de noivado,

escapuliu-se-lhe um traque

de timbre aclarinetado...

Entre nós e as palavras
Há um rio que nasce do silêncio

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.


És tu, que eu esqueci na idade ardente
Das paixões juvenis,
E que voltas a mim, sincero amigo,
Quando sou infeliz.


És tu que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar
Em nuvem d’ouro e púrpura descendo
Co’as roupas a alvejar.


És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidão do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?


Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?


Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora que faz chorar?


É a luz divina
que nunca mudou,
É luz ... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.

Sun is Shinning



A mãe é a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! – O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina


Mas Beleza é isso? – Não; só formosura.


Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser belo? – ama.