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terça-feira, 20 de setembro de 2011


Tudo está
eternamente
escrito

É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia é preciso dizer azul em vez de dizer pantera é preciso dizer febre em vez de dizer inocência é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora


Mário Cesariny

Onde uma tem 
A riqueza
A outra tem
A fadiga



Como é possível perder-te sem nunca te ter achado nem na polpa dos meus dedos se ter formado o afago sem termos sido a cidade nem termos rasgado pedras sem descobrirmos a cor nem o interior da erva. Como é possível perder-te sem nunca te ter achado minha raiva de ternura meu ódio de conhecer-te minha alegria profunda


Maria Teresa Horta


As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira




Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!

Quando foi que demorei os olhos

Não vale a pena suportar tanto castigo. 

É preciso saber por que se é triste
é preciso dizer esta tristeza

Se sabeis novas do meu amigo
novas dizei-me que vou morrendo
por meu amigo que me levaram



Herói é quem no muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta

Estou à espera da noite contigo
livre de amor e ódio
livre
sem o cordão umbilical da morte
livre da morte

Gasto-me à espera da noite alheia
amassada de gargalhadas doces e areia

Gasto-me à espera da noite
impraticável


Aqui na terra a fome continua A miséria e o luto A miséria e o luto e outra vez a fome Acendemos cigarros em fogos de napalm E dizemos amor sem saber o que seja. Mas fizemos de ti a prova da riqueza, Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez. E pusemos em ti eu nem sei que desejos De mais alto que nós, de melhor e mais puro. No jornal soletramos de olhos tensos Maravilhas de espaço e de vertigem. Salgados oceanos que circundam Ilhas mortas de sede onde não chove. Mas a terra, astronauta, é boa mesa (E as bombas de napalm são brinquedos) Onde come brincando só a fome Só a fome, astronauta, só a fome.


José Saramago